domingo, 21 de junho de 2015

Pedaços de chocolate



O filósofo alemão Nietzsche nos disse que “O destino dos seres humanos é feito de momentos felizes e não de épocas felizes.” Imagine que Deus (entenda o seu deus), tem uma barra de chocolate para cada um de nós. O nome desse chocolate é felicidade. Antes de lançar o chocolate para a Terra, ele o parte em muitos pedaços, e então os lança. Vivenciamos estar feliz no momento de encontrar um pedaço desse chocolate, e a sensação de felicidade ou falta dela, se dá em relação ao intervalo de tempo em que os encontramos. Pensar que devemos estar felizes a todo instante é o principal motivo da infelicidade. Não estar feliz, não significa estar infeliz, e aprender a estar entre esses dois polos é o segredo para a saúde mental.   
Quando as pessoas dizem aquela famosa expressão: “O dinheiro não traz felicidade”, atualmente, eu não posso mais concordar.  Tudo ao nosso redor parece indicar que a falta dele traz infelicidade, e não me refiro à falta para o supérfluo, mas para as “necessidades” inventadas pela sociedade atual. Vivemos num mundo onde cada vez mais as relações interpessoais (não todas), são permeadas por conveniências relacionadas ao consumo. Cada vez mais o potencial econômico reflete em satisfação social, influenciada pelos apelos midiáticos. A mídia diz que temos que comprar pedaços de chocolate mais caros para sermos felizes. O que a gente precisa, a gente sabe pela falta, por não estar executando, ou estar executando mal, ou de maneira insuficiente, algum tipo de necessidade ou tarefa. O que a mídia vende, nem sempre é o que você precisa, por isso ela vai usar artifícios que criarão novas necessidades para a gente, estimulando nossas vontades e manipulando nossos desejos.
A vontade e o desejo sempre existiram, mas hoje são moldados nas nossas cabeças desde nossas infâncias, juntando às nossas necessidades básicas, a adequação a moda, por exemplo, como condição de integração social. Ninguém é feliz sozinho (dizem), então teoricamente ninguém vai querer ficar fora da moda. A vida sempre teve motivos para as pessoas serem infelizes, mas hoje em dia, as pessoas discriminam também pela marca da sua roupa, do seu tênis, do seu perfume, dos seus óculos, do seu “carro” (meio de transporte) e de todo o chocolate que a sociedade diz ser mais gostoso. A lógica de criar esse mal estar na sociedade é tornar o consumo fonte de felicidade. Se o seu deus quebrou uma barra de chocolate para você, ele não faria isso com um chocolate mais caro do que você possa comprar.  Ao invés de ir atrás do chocolate que a sociedade diz que é bom, deveríamos ir atrás das coisas mais comuns que a vida inventou há muito tempo atrás; Família, amigos, uma pessoa para chamar de meu amor (ou várias, ou uma de cada vez) e cerveja (foi inventada há muito tempo atrás).
A sociedade de consumo faz parte de nossas vidas e acredito que nunca mais será diferente, ela é a locomotiva da vida moderna.  A gente só precisa entender que as coisas que a gente compra são meios para obter momentos felizes, não são essenciais para existência deles. Existem pessoas que tem a competência ou a sorte de poder comprar momentos felizes com dinheiro, e estes momentos não são menos bons do que os gratuitos, mas infelizmente não são para todos. Mas o universo psíquico é muito complexo, e mesmo uma pessoa que possa comprar momentos felizes todos os dias, pode não ter equilíbrio psíquico, e estar subindo e descendo constantemente entre os dois polos da felicidade. A luta pela conquista do momento feliz equilibra a balança, além do mais, a conquista do momento feliz pode prover um prazer inesperado e mais gratificante do que o do comprado na prateleira.
O segredo, quem sabe, esteja em buscar sua satisfação pessoal, sem criar parâmetros em relação ao que parece trazer mais satisfação para os outros. Tem pessoas que gostam de comer fígado de boi, eu não posso colocar na minha boca. Com certeza o gosto do chocolate muda de boca em boca.  Aliás, o gosto é o mesmo, mas a reação dentro da sua cabeça é que muda. Então eu posso garantir pra você, que a felicidade está na maneira de sentir o gosto das coisas. Eu nunca comi caviar, e apesar de as pessoas darem muito valor a essa iguaria, dificilmente ela vai ser mais gostosa do que a picanha, suculenta e mal passada que eu comi hoje no almoço. Os pedaços de chocolate têm o mesmo gosto, a felicidade tem o mesmo gosto, querer comprar o chocolate mais caro, confunde seu paladar, e a vida vai parecer amarga. Eu aprendi a não sentir o gosto de acordo com o valor das coisas, eu aprendi a dar valor ao gosto das coisas de pequeno valor.

Um comentário:

  1. "Então eu posso garantir pra você, que a felicidade está na maneira de sentir o gosto das coisas."

    Mazáá, tá te puxando, hein, Aleks. Parabéns!
    Parece que vi o Nadir aqui! hahaha

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